domingo, 16 de outubro de 2011

Brilliant


Em Janeiro de 1979, um grupo de alunos do MIT participou de um mini-curso extracurricular ministrado na faculdade, com o tema “Como Apostar se Você Precisar” (“How to Gamble if You Must”). Os alunos, que costumavam se entreter em amigáveis partidas de poker apostando centavos, resolveram testar as recém-adquiridas habilidade de contagem de cartas em viagens aos cassinos de Atlantic City, fazendo uma boa grana com a brincadeira. Após o desmantelamento do grupo no mesmo ano, dois de seus membros permaneceram na cidade de Cambridge, onde foram contatados por um jogador profissional interessado em seus esquemas. Após conseguir ainda mais dinheiro, os dois ex-alunos ministraram em Janeiro seguinte o mesmo mini-curso, dessa vez utilizando-o também como estratégia de recrutamento, selecionando os melhores alunos para dar continuidade à empreitada, que dessa vez durou pelo menos 20 anos (não sei se ainda continua). Uma versão romantizada da história pode ser vista no filme “Quebrando a Banca” (“21”), sucesso de 2008, muito legal se você curte filmes que mostram gente ficando muito rica em cassinos.

E o que tudo isso tem a ver com a nova empreitada da dupla criadora de Ultimate Spider-Man, Brian Michael Bendis e Mark Bagley? Bom, pegue a fórmula de universitários superinteligentes dispostos a decodificar algo muito complexo para tirar proveito, e adicione superpoderes na mistura. Brilliant é sobre isso. Conheçam agora a mais nova publicação do selo Icon da Marvel, criado pra segurar grandes criadores na editora, dando espaço e liberdade pra que possam publicar material próprio sem relação com seu universo tradicional.

A história, passada em Seatle, começa com um assalto a banco, protagonizado por um jovem com o poder do Jesse Custer (como não lembrar de Preacher nessa cena? Ainda mais quando o cara manda o policial enfiar a arma no rabo!), além de invulnerabilidade e alguns outros poderes mais difíceis de classificar. Corta pra apresentação de Albert, retornando ao seu velho dormitório na faculdade após ter tirado um semestre de folga por motivos pessoais. Recebido com uma festa organizada por seus colegas (sendo um deles Amadeus, o assaltante), é no afterparty que os mesmos revelam a Albert o projeto no qual vêm trabalhando nos últimos meses. Inspirados por personalidades como Isaac Asimov, L. Ron Hubbard (OK, esse não tem moral nenhuma) e Philip K. Dick, os garotos tentaram resgatar um tempo onde ciência e ficção científica pertenciam ao mesmo universo e sustentavam-se uma na outra. E assim, essa meninada esperta inventou os superpoderes.


A revista funciona na velha fórmula do Bendis, uma trama que não é exatamente inovadora, diálogos bem escritos, naturais, quase triviais, elementos mundanos de um nicho (estudantes) que estão lá para a identificação do público-alvo com os personagens, como os frequentes e atormentadores questionamentos sobre o rumo que sua vida está tomando, a pessoa que você está se tornando, ou simplesmente a próxima desculpa que você vai arrumar pra encher a cara.

"Que parte da ficção científica ainda não virou realidade científica?"

Ler Brilliant é quase como ler a versão Ultimate do Homem-Aranha Ultimate, o mesmo estilo associado à mesma arte (embora eu tenha achado a qualidade da coloração inferior), numa trama “atualizada” da velha atualização de 2000 (que já faz tempo pra caralho, como você sempre diz). Se você é fã da dupla, saiba que Brilliant estava nos planos de Bendis há alguns anos, mas não saiu do papel antes porque ele queria Bagley para desenhá-la, tendo preferido esperar o fim do contrato deste com a DC a escolher outro artista. É o primeiro trabalho autoral de Mark Bagley, e nas entrevistas dá pra perceber que ambos estão realmente empolgados com a revistinha nova. E como Brilliant está saindo pelo selo Icon, podemos esperar uma maior demonstração do potencial criativo do duo, com menos cagada intervenção editorial e maior autonomia. Vai ser 8 ou 80, vale baixar acompanhar!

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